Escola da fartura
26 de novembro de 2018Nós que amamos tanto o cinema
26 de novembro de 2018Respeitem o trabalho do professor!
Por favor, filmem o professor em sala de aula! Gravem um vídeo daquela professora da Educação Infantil e Ensino Fundamental I pegando na mão de uma criança ao ensiná-la a escrever as primeiras letras na difícil e importante tarefa de alfabetização – uma missão que exige muita, mas muita paciência. Registrem o momento em que essa professora ensina, com amor, os seus alunos, mas também observem a lágrima que escorre de seus olhos quando ela, emocionada, despede-se da turminha no final do ano letivo, abraçando os pequenos como se fossem seus filhos.
Apreciem o sorriso de satisfação e orgulho no semblante de um professor quando ele se depara com a notícia de que um ex-aluno conquistou o sucesso em sua carreira profissional e na vida pessoal. O mestre sabe que colaborou com alguns tijolinhos no êxito daquele que um dia foi seu discente
Não se esqueçam do professor que se preocupa em ajudar aquele aluno, que apresenta dificuldades de aprendizagem ou problemas disciplinares, a recuperar o tempo perdido. Destaquem o trabalho daquele profissional que alfabetiza jovens e adultos, auxiliando-os no resgate da dignidade e cidadania e colaborando com a queda da taxa de analfabetismo do país.
Filmem o professor em sala de aula! Mas não se esqueçam de apresentar o filme completo, ou seja, de destacar a sua trajetória até a docência. A sua nobre e corajosa decisão de escolher um curso de Licenciatura (formação de professores) em um país onde a Educação não recebe a devida valorização. O tempo gasto e o investimento depositado em sua formação acadêmica, as horas despendidas preparando aulas e corrigindo provas nos fins de semana – um tempo precioso que poderia ser utilizado com a família no lazer e no descanso.
Aproveitem a oportunidade e reparem naquele que ministra aulas em diversas escolas. Muitos, para compensar os baixos salários pagos à categoria (pena que grande parte da população acha esse fato normal e aceitável), desdobram-se em várias instituições de ensino, em jornadas de trabalho desumanas, muitas vezes se deslocando entre cidades diferentes, para chegar ao quinto dia útil do mês e receber uma remuneração que garanta uma vida digna para si e sua família. Imaginem a exaustão desse profissional no fim de semana. Ah! Não vamos nos esquecer de que ele tem pilhas de provas para corrigir e muitas aulas para preparar, restando os sábados e domingos para cumprir tal tarefa.
Aproveitem a oportunidade e reparem naquele que ministra aulas em diversas escolas. Muitos, para compensar os baixos salários pagos à categoria (pena que grande parte da população acha esse fato normal e aceitável)
Filmem o professor em sala de aula! Principalmente naquela cujas paredes estão emboloradas, as carteiras quebradas, sem ventilação e iluminação adequadas, lousa em péssimo estado de conservação e sem outras condições estruturais mínimas que garantam conforto e condições ao aprendizado dos estudantes. Reflitam sobre o caso de que alguns professores adquirem objetos básicos com recursos do próprio bolso (giz, apagador, papel sulfite, dentre outros) para ministrarem suas aulas em uma escola abandonada pelo poder público.
Assistam à aula de um professor de História que ensina fatos que deveríamos aprender para que os erros do passado não sejam repetidos no presente (nunca precisamos tanto dessa disciplina, atualmente). Participem da aula ministrada por um professor de Geografia que, em seus ensinamentos, deveria fazer todos repelirem correntes de pensamentos anacrônicas e ridículas que preconizam que a Terra é plana, por exemplo (Misericórdia! Já saímos, faz tempo, da Idade Média); acompanhem o nobre trabalho de um professor de Língua Portuguesa ao ensinar os alunos a ler e interpretar textos simples, o de Matemática a realizar operações e cálculos básicos e o de Ciências a orientar os discentes a lidar com conceitos, teorias, procedimentos e práticas associadas à investigação científica – patamares mínimos estabelecidos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) para que um estudante exerça plenamente a sua cidadania.
Procurem se inteirar do esforço realizado pelos nossos professores universitários, que efetuam suas pesquisas fomentadas com parcos recursos financeiros e, mesmo assim, promovem inovação tecnológica e avanços científicos que proporcionam benefícios inestimáveis ao país
Filmem o professor em sala de aula! Principalmente naquele momento em que ele ensina o jovem a pensar, a questionar, a conjecturar, a repelir o senso comum e o pensamento retrógrado (recheado de preconceitos e ideias pré-concebidas). Admirem o mestre que ensina o seu discente a respeitar o ser humano, os animais e a natureza.
Considerem o professor que mostra aos seus alunos o caminho para se tornarem cidadãos honestos, críticos, cientes de seus direitos e deveres, com consciência e sensibilidade sociais, para que ajudem na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, formando pessoas que, no futuro, entregarão um mundo melhor aos seus filhos, melhor do que este que estamos entregando, atualmente
Por favor, respeitem o trabalho do professor!
P.S.: recentemente, uma deputada estadual eleita por Santa Catarina, nas eleições gerais de 2018, divulgou em redes sociais um comunicado pedindo que estudantes catarinenses gravassem e denunciassem manifestações político-partidárias de professores em sala de aula. A deputada chegou a criar um canal para receber as denúncias. O Ministério Público de Santa Catarina entrou com uma ação na Justiça contra a deputada eleita, que também teve sua atitude repudiada pela Secretaria de Educação do estado de Santa Catarina, que, na oportunidade, destacou a liberdade de expressão do professor, bem como o seguinte princípio legal: liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber, previsto nos artigos 206 da Constituição Federal e 3° da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de dezembro de 1996.