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26 de março de 2019Perdas e Danos
O título do texto tomei emprestado de uma película de Louis Malle. Obra vigorosa, se não me engano, seu último filme
Reporto-me ao título, a fim de lamentar duas perdas, por mim muito sentidas. Na terça-feira, dia 22, e ontem, sábado, 23, as mortes de Tavito e Domingos de Oliveira.
Ambos artistas, porém, cada um com sua linguagem. Tavito, músico, mineiro, cria do monumental “Clube da Esquina” e Domingos, dramaturgo, cineasta, diretor de cinema e teatro, roteirista e criador de séries para a televisão.
Tavito é o autor, com Zé Rodrix, da bela “Casa no Campo”, dentre outras obras.
Domingos de Oliveira, além de ser uma referência, enquanto renovação na linguagem dramatúrgica, uma espécie de pai do “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, revelou para o cinema, ninguém menos que Leila Diniz, no filme “Todas as Mulheres do Mundo”, em 1966. Chamado de Woody Allen carioca, pelo jornalista Miguel Arcanjo Prado, produziu uma obra, calcada no amor, em sua presença ou ausência.
O dramaturgo resgatou um Rio de Janeiro humanizado, não só nostálgico, mas, um lugar onde a beleza, a paixão, o encantamento e a arte vinham antes das milícias. O ser humano ainda era o centro do Rio. Ninguém falou melhor das mulheres, em termos de sentimento, paixão, amor e desejo como o velho Domingos
Linguagem ágil e doce, pesada e lírica…poética.
Criou séries televisas, cuja grande marca, acreditem, foi a qualidade.
Desnudou-se, em carne e alma poética. Doçura e paixão, lirismo e dor, drama e comédia, tristeza e tesão, foram seus principais ingredientes.
Quando Tavito e Zé Rodrix cantavam: “- Eu quero uma casa no campo, pra compor muitos rocks rurais…”, retomavam a mesma época de Domingos, de doçura, de lirismo, encantamento, sonhos e, sobretudo, de utopias.
Tudo solapado pelo ódio, pelo fundamentalismo bestializado de hoje. Ao invés do amor, da paixão, do tesão, do sonho e da utopia, a liberação da posse e porte de armas, a homofobia, o feminicídio, o ódio, a ditadura e a dor. O rancor, a inveja e o fracasso
O ressentimento triunfando.
Ao invés da doce utopia da casa no campo, a exigência de se cantar o hino, o dogma cego, o ódio e o fascismo.
Será que errei no título?