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Amazônia: o coração verde do planeta

Professor Cadu é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo - Campus Votuporanga

O que os agricultores que plantam arroz no Rio Grande do Sul, cana-de-açúcar em São Paulo, soja em Goiás, café no Sul de Minas Gerais, milho no Paraná ou os pecuaristas que criam gado leiteiro no Triângulo Mineiro e de corte no Mato Grosso do Sul têm em comum? Todos ficam apreensivos com a temporada de chuvas que ocorrem, normalmente, ao longo da primavera e do verão, pois planejam as suas safras ou a engorda de seus rebanhos nessa época.

Mas o que muitos deles, talvez, não saibam é que a tão esperada temporada de chuvas só ocorre em sua região (Centro-Sul do país), em grande parte, devido a influência de um dos biomas mais importantes do planeta – a Floresta Amazônica.

Como isso ocorre? Sabendo que a vegetação da Amazônia não se espalha pela região Centro-Sul do país. Como uma floresta lá no norte do país pode influenciar a ocorrência de chuvas aqui no estado de São Paulo ou no Paraná, por exemplo?

Vamos explicar de uma forma bem resumida, começando com uma viagem imaginária ao redor de uma parte do Globo Terrestre (desculpem-me terraplanistas, mas a Terra é redonda). Vamos lá: se você pudesse viajar em uma nave espacial, ao lado de um professor de Geografia, e observasse, lá do espaço, as várias regiões da Terra, alinhadas à região Centro-Sul do Brasil (sentido Oeste – Leste), o professor iria identificar o deserto do Kalahari, na África (abrange terras da Namíbia, Angola e África do Sul), o deserto australiano na Oceania e, quase dando uma volta na Terra, já aqui na América do Sul, ele lhe mostraria o deserto do Atacama, no Chile – o mais árido e seco do mundo

Ao chegar ao Centro-Sul do Brasil (onde se localizam estados como São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais etc), o professor de Geografia iria lhe apontar uma região úmida, verde, representada por biomas com rica vegetação e caracterizados por grandes plantações, contrastando com a aridez daqueles desertos observados ao longo dessa viagem imaginária.

A explicação para isso? Somos agraciados em não ter um deserto aqui em São Paulo e em toda região Centro-Sul devido aos chamados “Rios Voadores” que se deslocam da Amazônia até a essa região do país.  Trata-se de um volume gigantesco de vapor de água proveniente da evapotranspiração das copas das árvores amazônicas que, a partir de processos específicos, estimulam o surgimento das chuvas na Amazônia e também nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste do país ou Centro-Sul.

Só para se ter uma ideia, uma árvore da Amazônia com uma copa de 10 metros de diâmetro e raízes profundas, pode evapotranspirar mais de 300 litros de água por dia. Uma árvore maior, com uma copa de 20 metros de diâmetro, lança mais de mil litros de água na forma de vapor na atmosfera por dia. Esse processo estimula a formação de chuvas que enchem os rios, irrigam as lavouras e abastecem os reservatórios das hidrelétricas no resto do país. Em outras palavras, caso a Floresta Amazônica seja devastada, a tendência é que uma região (que lembra um quadrilátero) que vai de Cuiabá, ao Norte, a Buenos Aires (capital da Argentina) ao Sul, e de São Paulo, a Leste, à Cordilheira dos Andes, a Oeste, vai se tornar bastante árida, não diferente dos desertos citados naquela viagem espacial imaginária

Esse quadrilátero representa 70% do Produto Interno Bruto (PIB) de toda a América do Sul e, somente por esse motivo, já teríamos uma excelente razão para manter a Floresta Amazônica de pé.

Embora seja fato que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”, pois praticamente todo oxigênio produzido pela fotossíntese de sua vegetação é consumido pela própria floresta (esse papel de “pulmão do mundo” cabe às algas marinhas, que produzem a maior parte do oxigênio no planeta), este bioma apresenta uma importância inestimável para a vida no planeta Terra.

A Amazônia e todas as outras florestas tropicais ajudam a estabilizar o clima de todo o mundo. O contrário, florestas degradadas, desmatadas ou que sofrem com queimadas são as maiores fontes de emissões de gases do efeito estufa depois da queima de combustíveis fósseis, agravando o processo de aquecimento global. A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade do planeta, abrigando uma em cada dez espécies conhecidas. Assegurar essa biodiversidade mantém os ecossistemas mais equilibrados e auxilia até a agricultura – áreas cultivadas com florestas preservadas em seu entorno possuem maior riqueza de agentes polinizadores, vitais para o cultivo de café, milho, soja e outras centenas de plantações.

Este bioma detém 20% da água doce disponível do planeta e contém a maior bacia hidrográfica do mundo, a do Rio Amazonas (o maior rio do planeta em volume de água).

Vegetais da Amazônia são utilizados na produção de medicamentos. Mais de 10 mil espécies de plantas amazônicas possuem princípios ativos para uso medicinal, cosmético e controle biológico de pragas que atacam as lavouras.

Os produtos da floresta são famosos e comercializados em todo o Brasil. O guaraná, bebida bastante consumida pelos brasileiros, é extraído de um fruto amazônico de mesmo nome. Além dele, outros frutos e matérias-primas são extraídos daquela região, como o açaí, castanha-do-pará, pupunha, couro vegetal ou ecológico, jaborandi, pau-rosa, capim-dourado (utilizado em artesanato), jarina (marfim vegetal), palmito, óleos e essências, dentre outros. Esse ecossistema é lar de 34 milhões de pessoas, incluindo mais de 350 povos indígenas, alguns em isolamento voluntário (dados extraídos da página na internet da organização não-governamental “World Wife Fund for Nature”, WWF-Brasil). Portanto, os debates acerca da preservação deste importante bioma, com 60% de sua extensão concentrada em território brasileiro, devem ser realizados por todos, sem viés ideológico ou partidário, pois o que está em jogo é a qualidade de vida no planeta e a sobrevivência de milhares de espécies, incluindo a do ser humano

O que não pode ocorrer é um jogo de discussões inúteis e de transferência de responsabilidades, enquanto a floresta é devastada.

Destaco uma frase que me chamou a atenção postada em uma rede social na internet, cujo autor é desconhecido:

Se o Brasil quer tanto mostrar quem manda na floresta, terá de mostrar ao mundo que ela não será derrubada. De pé, a Amazônia promete ser o instrumento de barganha diplomática do Brasil do século 21. No chão, seus troncos aprofundarão a cova onde estará enterrada a reputação do único país com nome de árvore

A Amazônia pode não ser o pulmão do mundo, mas, certamente, é o coração verde do planeta.

 

Carlos Eduardo Maia de Oliveira é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo – Campus Votuporanga
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