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Zé Brasil

Professor "Cadu" é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo - Campus Votuporanga

 

Ao ligar a TV, nada de novo, somente notícias de corrupção. Zé Brasil ficou nervoso, exasperou-se, lamentou-se, dizendo que não aguenta mais pagar impostos e não perceber o retorno. Pior! Cansou de ver denúncias de desvios de dinheiro público nos telejornais.

Zé Brasil tem razão de ficar enfurecido! De acordo com dados do Tribunal de Contas da União, desde a década de 1970, o país perdeu, com a corrupção, 300 bilhões de reais (isso mesmo, bilhões, com “b” de bola) somente em obras de infraestrutura

Revoltado, Zé Brasil se achou no direito de omitir alguns rendimentos e pegou, com seu amigo dentista, recibos de tratamentos dentários não realizados e os lançou em sua declaração de imposto de renda e disse: “Tem que sonegar sim! Já pagamos muitos impostos neste país”. Que isso, Zé Brasil! Não há justificativas para isso. Já pensou se todos pensassem assim?

Zé Brasil resolveu comprar um automóvel “0 Km”, o seu atual veículo já estava “velho”, tinha três anos de uso. No Brasil, ter um carro novo é símbolo de “status”, por isso, nada melhor do que adquiri-lo, assim o Zé será mais admirado (e invejado) pelos amigos, parentes e vizinhos. Porém, ao se deparar com os preços exorbitantes, ele desanimou.

É compreensível o desânimo dele, pois, conforme aponta a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2016, no Brasil, entre 48,2% a 54,8% do preço final do automóvel é representado por impostos. Para o leitor ter uma ideia, essa porcentagem na Argentina é de 21%, na Alemanha é de 19%, no Japão é de 5% e nos Estados Unidos é de 7,5%. Quanta diferença, não é verdade?!

Zé teve uma ideia. Por que não se aproveitar dos descontos concedidos a pessoas com deficiência (PCD) na compra de automóveis? Preparou toda papelada em nome de sua mãe, que se enquadrava nos quesitos mínimos para obter o benefício, e comprou o tão sonhado carro 0 Km com um bom desconto (detalhe: sua mãe não fazia questão de possuir um automóvel, já que não dirigia mais e, por ser idosa, tinha passe livre no transporte público). Oficialmente, o motivo alegado por ele para solicitar esse benefício era servir de condutor à sua pobre mãezinha, mas na realidade… A coitada da mãe do Zé não sabia nem a cor do carro novo comprado em seu nome.

Quando Zé Brasil pegou, em suas mãos, a conta de energia elétrica, quase cai de costas. Reclamou que essa tarifa pública estava ficando cada vez mais onerosa e já estava pesando, demais, no orçamento doméstico.

Tem fundamento a reclamação dele. Conforme dados da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), em levantamento encomendado pelo portal de internet G1, publicado no dia 10 de março de 2018, a conta de luz acumula alta média de 31,5% entre 2014 e 2017 e, até o final do ano de 2018, o aumento poderia chegar a 44%. Esse aumento superou a inflação do período, que foi de 28,86%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Diante disso, Zé Brasil resolveu seguir um conselho de um colega metido a espertalhão: fazer uma ligação clandestina na rede pública de energia elétrica, o famoso “gato”.  Que feio, Zé! Além de ser crime e colocar em risco vidas humanas, o furto de energia elétrica gera prejuízos de 8 bilhões de reais por ano, segundo cálculos da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Esse prejuízo é coberto pelas próprias distribuidoras de energia elétrica e pelos clientes que pagam a conta em dia, segundo reportagem publicada no jornal Estadão, no dia 02 de maio de 2018.

Ah! O Zé Brasil também aproveitou e comprou um receptor “especial” e obteve, sem autorização, sinal de uma famosa TV por assinatura. Pacote estelionatário completo, contemplando furto de energia elétrica e de sinal de TV por assinatura. Agora Zé Brasil tinha, à sua disposição, vários telejornais em sua TV por assinatura “gato” para assistir às notícias sobre corrupção e reclamar bastante delas.

E assim Zé Brasil foi levando sua vida, lamentando o aumento do número de casos de dengue em sua cidade, mas deixando de limpar a sujeira do seu quintal; reclamando da falta de estacionamento e da má conservação das ruas e avenidas de sua cidade, mas estacionando seu automóvel em vaga de deficiente ou idoso (ele até providenciou um cartão de idoso falsificado); parando, com seu automóvel, em fila dupla em frente à escola dos filhos, mas reclamando quando alguém faz o mesmo; furando filas em supermercados e bancos (nesse último caso, era comum Zé Brasil pedir a um conhecido, que estava no início da fila, para pagar seus boletos)

A propósito! Uma tática bastante utilizada pelo Zé nos supermercados: enquanto sua esposa fica na fila guardando lugar com o carrinho de compras, ele vai enchendo-o rapidamente até chegar a sua vez de pagar as mercadorias no caixa. Outro dia, Zé Brasil passou vergonha. Tentou passar no caixa rápido que tinha a indicação de no máximo 10 volumes com uma compra de “volume mastodôntico”. A funcionária do caixa pediu para ele se retirar daquela fila e dirigir-se à outra. Zé Brasil ficou irritado com a situação, foi para a fila correta e, contrariado, reclamou da atitude da funcionária (como se ele tivesse razão), tentando se justificar alegando que estava com muita pressa.

Enfim, esse é o Zé Brasil: “um homem que gosta de levar vantagem em tudo o que faz” (frase emblemática emprestada de um velho comercial de cigarros), passando por cima de regras, da boa educação e do direito de outras pessoas.

Zé Brasil é um personagem fictício, criado, exclusivamente, para esse artigo (quem sabe apareça em outros). Mas, infelizmente, suas ações são bem verdadeiras e frequentes no cotidiano. Hipocrisia é a palavra correta para definir sua postura, marcada pela prática de pequenas corrupções e pelo seu oportunismo barato.

Histórias verdadeiras representadas por um personagem fictício que servem para destacar que todo cidadão tem o direito de cobrar das autoridades o respeito com o patrimônio público, no entanto, todos têm o dever de respeitar as normas de convivência social e dar bons exemplos antes de reivindicar seus direitos

 

 

Carlos Eduardo Maia de Oliveira é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo – Campus Votuporanga
[email protected]

 

 

 

 

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