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Além da síndrome de Down

Professor Cadu é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo - Campus Votuporanga

 

…Eu tenho síndrome de Down, sabe? Mas eu ajo normal. Eu não me sinto com síndrome de Down. Eu me sinto além da síndrome de Down. Além do que eu vejo. Eu vejo além da síndrome, porque eu me sinto capaz de tudo. Eu tenho alcançado os meus sonhos, os meus objetivos, tudo… É assim o meu olhar. Eu vejo pessoas com capacidade de tudo, mesmo com síndrome de Down, eu consigo me olhar daqui pra frente

Essa declaração foi proferida pela jovem Jéssica Mendes Figueiredo ao site da Universidade Aberta do SUS (Sistema Único de Saúde), em março de 2015. Ela é fotógrafa profissional com graduação no curso superior de fotografia e trabalha na área como relações públicas no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE), em Brasília-DF. Jéssica possui síndrome de Down e leva uma vida normal como a de qualquer outra pessoa. Sua capacidade e conquistas profissionais provam que a visão equivocada que muitos têm de quem possui essa síndrome é fruto de preconceito e desconhecimento a respeito do assunto.
Ratificando o que ela disse em sua declaração (“eu consigo me olhar pra frente”), Jéssica faz planos para o futuro, pois pretende abrir a sua empresa para trabalhar como fotógrafa especializada em moda.
A síndrome de Jéssica não é uma doença, mas uma alteração no número de cromossomos. Normalmente, o ser humano possui 46 cromossomos em suas células ou 23 pares (um conjunto provém do pai e o outro da mãe). Quem tem síndrome de Down, em 95% dos casos, possui 47 cromossomos em suas células, pois, em vez de ter um par de cromossomos número 21, possui uma trinca. Por isso essa síndrome também é conhecida como Trissomia do 21. Os 5% dos casos restantes possuem outras causas.
Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, o Brasil possuía naquele ano cerca de 300 mil pessoas com síndrome de Down, o que gerava uma prevalência de 1 caso para cada 600 nascimentos, aproximadamente.
De acordo com Leonardo Gontijo, presidente do Instituto Mano Down de Belo Horizonte, “ao contrário do que muitos acreditam, não existem diversos graus da condição. Não existem pessoas mais afetadas ou menos afetadas ou mais infantilizadas ou menos capazes. O que existe é falta de estimulação ao longo da vida”.
Essa estimulação deve ser iniciada desde a infância por meio do trabalho de profissionais especializados, pois a pessoa com síndrome de Down tende a apresentar problemas motores, de audição e de visão que se não tratados, podem dificultar o processo de alfabetização e aprendizagem na escola. No entanto, com o tratamento adequado, a criança pode desenvolver as suas potencialidades e deve ser incluída no ambiente escolar, uma vez que a convivência com os colegas e os professores proporciona avanços em sua autonomia.
A longevidade das pessoas com síndrome de Down na década de 1920 era de apenas 9 anos, em 1970 era de 20 anos e, atualmente, no Brasil, segundo o IBGE, chega a 76 anos de idade ao nascer. Vários fatores colaboraram para o aumento da longevidade desse público como o advento das cirurgias cardíacas (quase metade das crianças com a síndrome nasce com algum problema no coração), vacinação, diagnóstico e inclusão, disse a geriatra Ana Thereza Schneider, integrante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), em matéria publicada na revista Exame em 2018.
Como Jéssica, citada no início do artigo, há vários casos de sucesso. Débora Seabra é outro bom exemplo: primeira professora com síndrome de Down do país, trabalha com crianças de 6 a 7 anos em uma escola na cidade de Natal – RN, escreveu um livro de fábulas infantis e, em 2015, ganhou o prestigiado prêmio “Darcy Ribeiro” de Educação. Ela foi considerada exemplo no desenvolvimento de ações educativas no país (informação extraída do site “Cromossomos 21” de 22 de dezembro de 2018).
Fernanda Honorato entrou para o RankBrasil em 2014 como a primeira repórter com síndrome de Down do país. Trabalha em um programa especial da TV Brasil desde 2006, participa de peças de teatro, é dançarina de dança cigana e atleta da Sociedade de Síndrome de Down na modalidade natação. Todos os anos é destaque na famosa escola de samba carioca Portela. Recebeu das mãos do príncipe inglês Harry a medalha de Rainha da Bateria da Embaixadores da Alegria. Fernanda também participou de uma Websérie chamada “Geração 21” (informação extraída do site “Cromossomos 21” de 22 de dezembro de 2018).
Atletas, dançarinas, professoras, repórteres, atrizes, escritoras, modelos, psicopedagogos, enfim, várias são as profissões nas quais as pessoas com síndrome de Down se destacam atualmente. Portanto, como se vê, o preconceito é injustificado com relação a elas. E preconceito se combate com a divulgação de informações corretas e a quebra de paradigmas.
Quebrando paradigmas e deixando de lado o preconceito, conseguimos enxergar além da síndrome de Down. Percebemos que além dessa síndrome existe um ser humano cheio de sonhos e que possui o direito de estudar, aprender, trabalhar e lutar pelos seus objetivos. Existe uma pessoa que tem o direito de sonhar. Uma pessoa que tem o direito de viver. Viver plenamente.

Vamos respeitar a pessoa com síndrome de Down! Vamos respeitar a diversidade humana!

Carlos Eduardo Maia de Oliveira é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo – Campus Votuporanga
[email protected]

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