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Je T’aime le cinema

Zé Renato é professor de Filosofia da UniJales

O cinema está presente em minha vida desde criança. Cresci vendo filmes; na juventude comecei a ler os grandes autores. A simbiose de ambos me levou à Filosofia.
Sou do tempo que um grande filme se preocupava em contar uma história, mesmo quando não contava uma história. Vide o belo “O Ano Passado em Mariembad” de Alan Resnais.
Nos últimos anos houve uma sensação de que o cinema poderia viver seu eclipse, em razão da internet, sobretudo do streaming. Felizmente, se mostrou resiliente. Afinal, o cinema sempre será o cinema.

Cito esta situação para lembrar que ele – o cinema – teve que se adequar (daí a resiliência) às mudanças: uma disputa com as Netflix da vida. Suas histórias passaram a exigir uma inevitável visita ao universo produzido pela fibra óptica. Portanto, tivemos nós – amantes da grande arte -, também de nos adaptar a este “estado de coisas”. Os filmes passaram a se construir com um certo apelo ao novo “status quo”

Confesso: não me agrada muito.
Fazia um certo tempo que um lançamento desta nova realidade não me agradava tanto.
Assisti “A Baleia”. Amei.

É cinema puro. Drama, plano, tomadas, luz, … O filme me lembra o cinema de Ingmar Bergman: suas tomadas, planos e iluminação, diálogos longos e densos; muitas vezes, na maioria, são apenas diálogos com planos precisos, sem contar os memoráveis planos americanos, os quais interrompem os diálogos para acrescentar uma terceira pessoa em cena. Há a internet, na medida em que o protagonista é um professor online. Logo, não foge da contemporaneidade

Manter a câmera fechada durante as aulas, somente abri-la ao final, resultará numa grande epifania.
Ponto importante do filme: o fio condutor da película é o clássico “Moby Dick” de Herman Melville.
Há uma luz que nos remete aos grandes filmes “B” ou “Noir”, como nominaram André Bazin e seus grandes resenhistas no “Cahiers de Cinema”. Uma certa penumbra, própria desta estética e mesmo do barroco, do maneirismo…de Rembrandt, Velásquez, Caravaggio, por exemplo.

Permito-me esta digressão para lembrar: estes movimentos artísticos, estas estéticas, ainda que inseridos no classicismo, apontavam para grandes rupturas, ao introduzir, temas mundanos, pessoas comuns, seus dramas e sofrimentos; fazer delas seres tão importantes quanto nobres, clero e mitos. A introdução de uma mudança na iluminação, mais contida, mais densa e dramática, dá as telas esta dimensão. Da mesma maneira é possível pensar os filmes “B” ou “Noir”, nos ensinou Bazin

No filme em questão, o personagem central é um professor que leciona por meio de sua câmera fechada, literatura, produção de texto, através do contato dos grandes gênios. É um homem comum, porém, como em Caravaggio, por exemplo, traz deformidades: excessivamente gordo, por causa disso, sua mobilidade é quase nula, se afunda cada vez mais em comer, para fugir de sua grande dor – a perda de um amor -, todavia, tem na literatura, em particular o clássico de Melville, seu refúgio ou sobrevida.
Note-se: a relação quase nula, totalmente degradada entre o professor e sua filha, outro ser que vive com o smartphone à mão – retrato patético deste tempo -, busca uma espécie de redenção por meio da literatura, de Melville em particular. O drama desta relação somado ao difícil contato com a mãe, basicamente, se dá pela literatura. Por meio da qual, o pai busca atenuar seus erros, suas omissões e ausência, e até mesmo um visível desvio de caráter da filha.
É oportuno salientar: os densos e dramáticos diálogos, já citados aqui, quer entre o professor e sua amiga Liz; quer entre o professor e sua filha; quer entre o professor e sua ex-mulher; tem um outro elemento: um jovem, a princípio, religioso, o qual busca a redenção, a salvação do professor, por meio de sua – pretensa – fé.
Todos os diálogos, em poucas vezes, triálogos, nos apresentam férteis possibilidades de reflexões ético-morais, e mesmo, moralistas: as desculpas para omissões, covardias, erros e fracassos. Sobretudo a pretensa religiosidade e a falsa e hipócrita cristandade se escancaram e minimizam-se diante do real e legítimo drama do professor: escolheu não querer continuar a viver. Seu desejo de Tânatos somente é interrompido pela arte. É nela que ele busca a redenção da filha, a visão de um caráter ou uma saída para sua vida fútil e vazia.

Pseudo-religiosos, falsos cristãos, buscadores do “supremo bem”, buscadores de seguidores nas redes sociais, crentes da vida virtual… CHUPA! Só a arte nos redime

 

Zé Renato é professor de Filosofia da UniJales
joserenatostb@hotmail.com

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