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Continuo amando o cinema

Zé Renato é professor de Filosofia da UniJales

Os filmes cuja temática é contar a história do cinema ou de um filme em particular, até aqui, foram arrebatadores. Fiz uma pequena lista pautada nas memórias do coração de apaixonado: Good Morning, Babilônia, A Noite Americana, Assim Estava Escrito e Sunset Boulevard.

O primeiro de minha citação é uma obra-prima (mais uma) dos irmãos Paolo e Vittorio Taviani que refere à realização do filme Intolerância (1916) de David Griffith. Bom dia, Babilônia (1987) é uma homenagem a este genial cineasta estadunidense, criador da incipiente linguagem do cinema genialmente expandida por Chaplin. Também é de sua autoria o chamado ‘plano americano’ – famoso enquadramento que fixa a câmera até os joelhos dos atores, criando assim um espaço maior para ocorrerem mais ações às suas costas, sem perder o protagonismo deles

Intolerância, com as lentes atuais, configura-se um filme racista, digno da Ku Klux Klan; todavia, as questões técnicas e estéticas são indubitáveis. Os irmãos italianos, produtores e diretores de vasta obra fílmica, elogiaram-no como realizador e um importante nome da história do cinema.
Seguindo com minha lista – e aqui não se trata de melhor ou de primeiro, segundo ou terceiro, porém de memória e paixão pois amo todos os citados – outra obra-prima: A Noite Americana de Françoise Truffaut (1973). É sublime!
Dirigido e protagonizado por um dos artífices da “nouvelle vage”, ele faz o papel de Ferrand, o diretor que luta para concluir seu filme e ao mesmo tempo se compadece dos dramas cotidianos de seus atores, produzindo além da metalinguagem uma bela metáfora de si e do cinema. A obra traz ainda a diva Jacqueline Bisset no auge de sua beleza e sensualidade.

Tocante detalhe: a conclusão do filme se dá por meio da chamada ‘noite americana’: que consiste no uso de filtros nas câmeras a fim de produzir uma iluminação que, de alguma forma, remete aos filmes ‘B’ ou de baixo orçamento, os chamados ‘filmes noir’; revelados e divinizados pelo Cahiers du Cinema (uma das maiores publicações sobre cinema do mundo editada na França) de André Bazin. Nesta Truffaut era um dos resenhistas e entusiastas.

Na sequência, a obra maior de Vicent Minelli: Assim estava escrito (1952). Identificado como diretor dos grandes musicais – que não me agradam –, este filme é uma exceção em seu currículo. Narra a luta de um inescrupuloso(?) produtor, interpretado por Kirk Douglas – ensinando como ser um astro de cinema – para a concretização de um filme que busca significar sua ressurreição. Para tanto, Minelli conduz um belo flash back com o propósito de encetar o espectador no cerne do drama – nos dois sentidos –apresentando o produtor em condição de desespero para conquistar um “lugar ao sol” (belo filme de George Stevens).
Lutando para conquistar espaço na indústria do cinema a personagem se arrisca; ousa. Aposta no novo e no desconhecido. Responsável pela consagração de um novo diretor, de um novo roteirista e de uma nova estrela do cinema – Lana Turner, no esplendor da beleza e magnitude de sua arte. Todavia, para levá-los à glória, o produtor realizará profundas cicatrizes em suas vidas pessoais tornando-se odiado por eles.
O final da película é arrebatador: depois de muitas recusas, os “vitimados” pelo maléfico produtor, ao serem rememorados por quem eram e quem se tornaram, pós-convívio, reúnem-se em torno do telefone para ouvirem uma desesperada chamada de Paris, na qual, busca a redenção. Logo, a obra nos leva a pensar nas dicotomias bem e mal, certo e errado, realidade e ficção… Coisas do cinema!
Por fim, minha lista, sem ordem de importância, fecha com a divindade chamada Billy Wilder com Sunset Boulevard (1950). Tarefa impossível falar de Billy Wilder sem superlativos; como também é impossível se referir a um de seus filmes sem mencionar os demais, posto que são todos obras-primas. Neste momento me atenho apenas ao magnífico filme, nominado no Brasil por “Crepúsculo dos deuses”.
Inicia com plano aberto sobre bela piscina de luxuosa mansão. A voz em off (narrativa machadiana) nos alertará para o corpo que boia nela, morto – contada pelo próprio finado. Por que está lá? Quem o matou? Ambas as perguntas têm a mesma resposta: o cinema.

A película também roda em flash back e conta a história de um jovem escritor – Willian Holden, no auge da exuberância de um galã – que sonha em tornar-se um grande roteirista de Hollywood. Pobre, possuindo apenas sonhos, é outro que luta por um “lugar ao sol”. Em sua desdita encontrará Norma Desmond – Glória Swanson, divina e perfeita – viúva do cinema mudo. A triste mulher é o trágico e amargo retrato dos astros do primeiro cinema, o qual sonorizado, solapou vidas e carreiras. É lícito lembrar de tristes casos de Buster Keaton, Rodolfo Valentino e Greta Garbo para permanecermos em três monumentos

A condição miserável do jovem e sonhador escritor, o coloca nos braços da decadente e patética ex-diva do cinema mudo. Todavia, o legado de sua miséria faz com que ele se apaixone por uma bela e talentosa roteirista que trabalha e sonha em Hollywood.
A decadente estrela mora numa mansão-mausoléu, cujo mordomo é um devoto seu: o grande Erich Von Stroheim. Como Wilder, é um fugitivo do nazismo e um dos gênios do expressionismo alemão cujos trabalho e arte conquistaram mais que um abrigo na meca do cinema americano. Obtiveram reconhecimento de seus talento e gênio.

Óbvio que o jovem escritor se apaixona pela jovem escritora e é correspondido. Sua luta será: libertar-se da decadente atriz – que sustenta seu luxo – e encarar a pobreza em nome do amor. Todavia, as coisas não são simples. Norma não renunciará a sua posse – o jovem escritor – aquele que sustenta e mantém como uma espécie de tesouro, um amuleto, no qual se agarra para continuar crendo que ressurgirá. (Reparem que o termo ressureição no cinema é recorrente). Talvez seja mesmo mais um drama do ego: o jovem lhe alimenta a crença que ainda é desejável e que seu ostracismo é passageiro

A punhalada final em sua melancólica certeza do fim: depois de uma última grande humilhação nos Estúdios Paramount (fora chamada para comparecer ao local). Feliz e certa de sua volta triunfal, descobre que se tratava apenas de uma proposta de anônimo produtor para alugar seu anacrônico automóvel por algumas semanas para um “filme de época”. Knockdown!
O nocaute é a confirmação do amor entre os jovens e a consequente “traição” de seu “par”. Norma o mata a tiros. O corpo cai, perfurado de balas, na piscina. Pela manhã a polícia já está na decadente mansão.  A atriz se recusa ao real: se maquia e se prepara para uma definitiva entrada num set de filmagem.
Sabedor da situação, seu mordomo, na verdade é seu devoto marido, encena sua definitiva tomada. Os planos serão cuidadosos. Luz impecável. Silêncio no set. Na vida real, Norma Desmond desce as escadas de seu mausoléu, com planos, tomadas e luzes calculados; dirigidos, impecavelmente pelo seu mordomo-marido-devoto: se entrega à polícia como assassina.
É o fim de Norma Desmond. É o fim do cinema mudo. Naquele momento também é o fim do já falecido “Expressionismo Alemão”. Quem professará este réquiem é um de seus artífices: Erich Von Stroheim.

Mais uma bela, sensível, singela e estética homenagem de um gênio ao outro. PUTA FILME!

Ao falar do filme de Vicent Minelli, mencionei as dicotomias bem/ mal; certo/errado, por exemplo. Antes afirmei que, ao contar sua história e seus dramas, o cinema produziu obras-primas. Há uma exceção. O filme Babilônia, lançado há pouco, foi ungido por muitas críticas favoráveis, nas quais narrava-se o teor da obra: uma crítica aos primórdios do cinema.
É evidente que num meio onde circula muito dinheiro e fama instantâneos cria-se uma aura de glamour, de fascínio pela própria novidade da arte. Também parece óbvio que esta situação propicia festas fáusticas, luxúria e, eventualmente, drogas, álcool….
E o filme centra-se nisso. Preocupa-se apenas com isso.
Não se trata de uma denúncia moralista, não sou afeito a isto. Contudo, apenas uma lembrança pelo exposto acima que há outras maneiras de contar a história do cinema para além do maniqueísmo, do moralismo e do excesso.
Perdeu-se, a meu ver, a oportunidade de se tratar novamente – ainda que com outro enfoque – de forma sublime os primórdios do cinema.
Babilônia, que intitula o filme, sem dúvida é uma referência ao cinema mudo, a Griffith e até aos irmãos Taviani. Todavia, minha opinião, foi desperdício.

Brad Pitt e Margot Robin, maravilhosos, estabelecidos pela qualidade de seu trabalho, são desperdiçados em papeis grotescos, principalmente a protagonista, cujo papel é de uma aspirante a atriz, dependente química, usuária contumaz de cocaína (não sei explicar a razão de me lembrar Mary Pickford) que passa quase toda história chapada, trepando e ostentando sua fama; mantendo num sanatório sua desequilibrada mãe (talvez uma menção a Marilyn Monroe, apenas no caso familiar) e uma relação doentia com um jovem que começa o filme conduzindo um elefante para uma festa ( o animal remete ao filme Intolerância e a obra dos Taviani). Este vira um ‘faz tudo’ do personagem de Brad Pitt, torna-se um rico produtor e depois perde tudo por envolver-se com a atriz ‘nóia’. O final é patético

Falei muito em redenção. Aqui vai outra: Os Fabelmans (2023) de Steven Spielberg.
Este é para outro texto.
CORTA!    

Zé Renato é professor de Filosofia da UniJales
joserenatostb@hotmail.com

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