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Ciúme mortal

Professor "Cadu" é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo - Campus Votuporanga

Vamos falar de um tipo de feminicídio (homicídio de mulheres pela sua condição de ser mulher) que vem ocorrendo com certa frequência nos últimos anos: homem, inconformado com o fim do relacionamento, resolve assassinar a ex-namorada ou ex-companheira, seguindo uma máxima cruel, egoísta e machista: ‘se ela não pode ser minha, não será de ninguém!’

Infelizmente é uma ocorrência muito comum em nosso país, provando que não são casos isolados. Somente em 2019 foram tantos registros que fica difícil elencá-los.  Por isso, destaco o mais recente que apresentou discreta repercussão na mídia.

No dia 17 de maio de 2019, uma jovem foi assassinada pelo seu ex-namorado com um tiro na cabeça na frente da filha de 4 anos de idade, na cidade de Diamantino, 209 Km de Cuiabá (capital do estado de Mato Grosso). Motivo: o rapaz, extremamente ciumento, não se conformava com o fim do namoro que manteve com a vítima. De acordo com as investigações, o assassino não aceitava que a sua ex-namorada conversasse nem mesmo com as amigas, revelando ciúme e sentimento de posse doentios – sintomas clássicos em uma sociedade machista como a brasileira.

Matéria publicada em uma coluna do jornal Folha de São Paulo, no dia 20 de maio de 2019, destacou que essa modalidade de crime é a segunda causa de feminicídio no Brasil, perdendo apenas para a suspeita de traição. Incrível! Apenas a suspeita de traição motiva um homem a matar uma mulher. Já pensou se as mulheres resolvessem matar todos os homens realmente infiéis? Certamente teríamos um banho de sangue.

Nos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade de Washington publicaram, no mês de abril de 2019, no “Jornal Americano de Pediatria”, um estudo que revelou que, em 25% dos casos de assassinatos de adolescentes pelos seus ex-parceiros, a motivação foi o ciúme e o inconformismo demonstrados por eles frente ao fim do relacionamento.

Naquele país esse tipo de crime é considerado um problema de Saúde Pública e, por isso, especialistas recomendam que o assunto deve ser intensamente debatido por professores em sala de aula (por favor, peço aos radicais de plantão que não chamem isso também de doutrinação), médicos, psicólogos, dentre outros profissionais.

Nossas irmãs, filhas, sobrinhas, afilhadas e netas estão em perigo. Não é exagerada essa afirmação, pois o Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio entre 84 países pesquisados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por aqui, mata-se uma mulher a cada duas horas e mais de 100 feminicídios ocorreram somente no mês de janeiro de 2019, de acordo com levantamento do professor Jefferson Nascimento, doutor em Direito Internacional da Universidade de São Paulo (USP)

Um padrão nesse tipo de crime e que merece atenção é que, geralmente, um assassinato de mulher é precedido por um ato de agressão. Não é normal um homem dar um tapa no rosto de sua namorada, um marido agredir fisicamente e psicologicamente sua esposa e cercear seus relacionamentos com amigos e parentes. Isso jamais deve ser tolerado! A mulher que estiver vivenciando situações de abuso e violência com seu parceiro deve denunciar o fato às autoridades.

Ah! Quantos aos homens, reprovem as atitudes de um amigo ou parente que se comporta dessa forma. Denuncie-o às autoridades em caso de violência praticada contra as mulheres

Pais, não ensinem seus filhos a serem machistas, egoístas e ciumentos, mas a serem gentis com as mulheres, a respeitarem a autonomia feminina, a aceitarem as decisões que são tomadas em um relacionamento, inclusive a de terminá-lo. Afinal de contas, ninguém é obrigado a manter um relacionamento com uma pessoa. Ninguém é propriedade de ninguém. O ciúme doentio pode ser mortal.

 

Carlos Eduardo Maia de Oliveira é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo – Campus Votuporanga
edumaiaoli@yahoo.com.br

 

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