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Cidadania e educação no trânsito brasileiro

Professor "Cadu" é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo - Campus Votuporanga

Se há um termômetro para medir o grau de cidadania de um povo, o trânsito certamente encabeça a lista dos itens culturais que fazem isso com precisão: constitui-se, dentro do espaço público, lugar de encontro entre classes sociais distintas, e requer um convívio igualitário, com leis que valham para todos e que sejam respeitadas

(Prefácio do Livro intitulado “Fé em Deus e pé na tábua”, de Roberto DaMatta, editora Rocco, 2010).

Nesse caso, nós, brasileiros, possuímos um baixíssimo grau de cidadania, pois o nosso trânsito é um dos mais violentos do mundo, e nossa educação ao volante não é das mais recomendadas. De acordo com dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, em 2016 (dados mais recentes), ocorreram nas vias públicas brasileiras, 37.345 mortes registradas, e um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), coloca o Brasil na quinta colocação entre os países com maior número de vítimas fatais de acidentes de trânsito, atrás da Índia, China, Estados Unidos e Rússia.

É curioso notar que a maioria das vítimas fatais é homem (82,38%), de acordo com dados do SUS (Sistema Único de Saúde), desmistificando a crença de que os motoristas do sexo masculino dirigem melhor do que as mulheres. Talvez esse preconceito machista confira a eles uma falsa sensação de segurança que os encoraja a assumir maiores riscos ao volante

Outro preconceito relacionado ao tema e contrariado pelas estatísticas é que as pessoas mais velhas não dirigem tão bem quanto os adultos mais jovens: a maioria das vítimas, segundo informações do SUS, possui entre 20 a 49 anos de idade, especialmente entre os indivíduos do sexo masculino (61,86%). Entre as mulheres, as vítimas nessa faixa etária constituem 47,64%. Não é por acaso que as seguradoras no país cobram de homens mais jovens valores mais elevados de seguros de veículos automotores.

Uma campanha permanente promovida pelas autoridades para diminuir as mortes no trânsito é o destaque da relação indesejável entre álcool e volante. É de conhecimento público que não se deve cometer o crime de dirigir após a ingestão de bebidas alcoólicas. Não pensem que existem pessoas com superpoderes que as permitem dirigir alcoolizadas sem correr riscos. Os efeitos do álcool diminuem os reflexos do motorista, tão necessários para a boa condução do veículo, especialmente em situações adversas que exigem certa perícia em manobras rápidas: desviar de uma criança que atravessa a rua, de buracos e obstáculos no pavimento, de animais em rodovias, dentre outras inúmeras intempéries.

A propósito! A aprovação da ‘Lei Seca’, que tornou as punições mais rigorosas para quem ingere bebidas alcoólicas antes de dirigir, diminuiu em 14% as mortes no trânsito no período de 10 anos. Em 2008, ano em que essa lei entrou em vigor, ocorreram 38.273 óbitos no trânsito relacionados à embriaguez, de acordo com informações do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em 2017, dados preliminares apontam a queda para 32.615 casos. Uma boa notícia, mas mesmo assim os números ainda são elevados

Para diminuir essas estatísticas negativas relacionadas ao trânsito brasileiro, dentre outras providências, motoristas e pedestres devem conscientizar-se da responsabilidade na condução de um veículo automotor. A justificativa é simples: nosso corpo é feito de carne e ossos, portanto, somos frágeis, muito frágeis. Os automóveis são produzidos com material sintético resistente, especialmente aço, e pesam, em média, mais de mil quilos (veículo de passeio), ou seja, não precisam de alta velocidade no deslocamento para o impacto no corpo humano, em caso de colisões, deixar sequelas importantes ou ser fatal. Também é preciso ter respeito pelos outros, pois, hoje, a sua imprudência ao volante pode provocar uma morte nas vias públicas, mas, amanhã, a vítima pode ser você ou alguém da sua família.

Ruas e rodovias não são propriedades particulares, mas locais públicos, sujeitas a regras, válidas para todos: ricos e pobres, homens e mulheres, motoristas e pedestres. As vias públicas são espaços democráticos, nos quais um cidadão que conduz um veículo de 1 milhão de dólares tem os mesmos direitos e deveres daquele que conduz um automóvel antigo, que vale poucos reais. Que um ciclista ou um motociclista têm as mesmas obrigações em observar as leis de trânsito de quem circula com um carro de passeio ou uma caminhonete

A sua pressa não é mais importante do que o compromisso daquele que está à sua frente deslocando-se pela cidade. Os sinais de um semáforo existem para ser respeitados, organizar o fluxo de veículos e dar a mesma chance que foi ou será concedida a você de transpor um cruzamento. Aquela vaga de estacionamento tão desejada pode não ser sua – respeite as destinadas aos deficientes e idosos.

Se presenciar algum motorista cometendo um erro ao volante, não se irrite! Lembre-se de que você também já cometeu algumas “barbeiragens”. Seja tolerante! Mesmo porque, brigas e discussões no trânsito não são raras e muitas vezes descambam para perseguições, espancamentos e até mortes.

Se deseja apostar corrida, vá ser um piloto profissional de automobilismo. Se quiser chegar mais cedo ao seu destino, saia mais cedo. Se tiver dificuldade em encontrar vagas de estacionamento no centro da cidade, vá à pé ou utilize o transporte público (opção que deveria estar mais disponível e ser mais utilizada pelos brasileiros). Se pretende assumir uma postura perigosa na direção de um veículo, nem pense nisso, pois o respeito à sua vida e à dos outros é uma obrigação básica na sociedade

Nunca se esqueça de que a sua imprudência pode fazer uma vítima no trânsito. Essa vítima pode ser um desconhecido, um amigo ou um ente querido. Essa vítima pode ser você.

Vamos melhorar o nosso grau de cidadania e a nossa educação no trânsito.

 

Carlos Eduardo Maia de Oliveira é Biólogo, Cirurgião-Dentista, Mestre em Microbiologia, Doutor em Geologia Regional, Professor EBTT no Instituto Federal de São Paulo – Campus Votuporanga
edumaiaoli@yahoo.com.br

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