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Bolsonaro é fascista?

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Nunca foi tão urgente entendermos o que é o fascismo. Mas o que vem a significar esta palavra que tantas postagens nas redes sociais estão citando?

A expressão fascismo, utilizada por nós historiadores, e demais pesquisadores das ciências humanas, se refere a um fenômeno histórico que ocorreu na Europa entre os anos de 1922 e 1945, em que tiveram ascensão regimes políticos totalitários, contrários às democracias liberais e ao regime soviético (também totalitário).

Entre as principais características dos Estados fascistas está o apoio das massas, a posição de oposição aos projetos liberais e comunistas, a ênfase na valorização dos valores tradicionais, a recriação do passado e a invenção de tradições

Ao analisarmos o projeto de governo bolsonarista, é perceptível o quanto é anacrônica a visão de esquerda utilizada. Esta confusão entre comunismo, socialismo, ditadura, radicalidade, anticristianismo, é proposital e conduz o leitor a entender as lutas do MST, da comunidade LGBT, do movimento feminista e do movimento negro, como faces de um plano perigoso, constituído por uma esquerda criminosa e organizado, desde a criação do Foro de São Paulo, no início dos anos 90.

O fascismo seria um contraponto ao liberalismo defendido por EUA e Inglaterra e pelo socialismo da URSS, apresentando-se como uma ideologia sedutora a ponto de envolver as classes populares. Fazem parte deste ideário político a descrença generalizada nas instituições democráticas e o desencanto com o Estado. Bolsonaro é popular e suas falas a respeito das urnas eletrônicas e sobre os direitos humanos colocam em xeque pontos importantes da estrutura republicana.

Quando analisamos a experiência alemã, com o Nazismo, é possível perceber ainda outros pontos importantes para compreender o que é o fascismo. A Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) deixou um rastro de destruição que abalou a Europa. A Alemanha se tornou uma grande potência industrial após a unificação, em 1871. Fazendo frente à Inglaterra, passou a disputar e conquistar territórios e mercados. Este período de orgulho para os alemães foi duramente freado pela derrota sofrida na Primeira Guerra Mundial. No período entreguerras, em meio à crise econômica e social, o discurso salvacionista de Hitler ganhou espaço na mente e nos corações do povo de seu país.

Bolsonaro é considerado por muitos de seus eleitores como um salvador, como um político honesto e com forte senso de justiça. Essa sedução pelo líder forte, militarista, não é novidade. O Brasil também vem passando por uma crise de ordem econômica, uma crise política e ética. As falas extremistas de Bolsonaro ressoam com os anseios de um povo que se desencantou com o projeto de democracia proposto tanto pelo centro-esquerda quanto centro-direita.

Considerar Bolsonaro fascista, enquanto um sujeito com um discurso ideologicamente fascista, é uma simplificação, ele é uma mescla de autoritarismo e neoliberalismo sob um manto democrático

O candidato do PSL à Presidência do Brasil compartilha um posicionamento anticomunista, porém não antiliberalista. Pelo contrário, Bolsonaro propõe uma agenda econômica neoliberal. As semelhanças com o fascismo são mais perceptíveis em alguns grupos de apoiadores que têm utilizado da simbologia nazista em vandalismos e ataques a pessoas de opinião contrária. O fascismo, enquanto forma simbólica de governo, não é a base do programa bolsonarista, mas há uma proximidade entre o discurso B17 e certas bandeiras levantadas em idos da década 1930, especialmente a construção de um inimigo comum. No caso do fascismo da primeira metade do século XX, esses inimigos foram os socialistas, comunistas e liberais, na figura de opositores internos e externos. O terreno foi semeado mediante as frustrações da Primeira Guerra e da Crise de 1929.  Para o bolsonarismo, o inimigo é a esquerda, não só o PT, mas partidos de centro-direita, como PSDB, não escapam a sua crítica. O surto de drogas, as mudanças no que diz respeito à cultura sobre a sexualidade, seriam resultado da adoção do marxismo nas bases de governo, na educação e na cultura.

Ao analisarmos o projeto de governo bolsonarista, é perceptível o quanto é anacrônica a visão de esquerda utilizada. Esta confusão entre comunismo, socialismo, ditadura, radicalidade, anticristianismo, é proposital e conduz o leitor a entender as lutas do MST, da comunidade LGBT, do movimento feminista e do movimento negro, como faces de um plano perigoso

Bolsonaro não é um fascista clássico, mas ele é citado como líder adequado para alguns grupos que se declaram fascistas. Bolsonaro é parte de um conjunto maior do fenômeno do autoritarismo, sendo um resultado da falência ética do projeto democrático da Nova República. Sua inspiração está nos governos militares brasileiros, não em Mussolini ou Hitler, mas não podemos negar que semelhanças existem. Desse modo, não devemos menosprezar o aumento do fascismo no Brasil, mesmo que ideologicamente distante, o discurso racista, xenofóbico, misógino e antidemocrático está se espalhando com(o) pólvora entre a população, especialmente pela mescla perigosa do discurso autoritário com o fundamentalismo religioso.

Por fim, respondendo a pergunta lançada no título: Bolsonaro não se compreende como um líder fascista, mas suas falas, práticas e programa de governo se aproximam das propostas de governos fascistas por este compartilhar das características que identificamos em nossa rápida análise. Essas semelhanças seduzem parte dos brasileiros que estão descrentes da política, céticos quanto ao projeto democrático, ou tão comprometidos com suas crenças que optam por seguir as orientações de seus líderes ao invés de pensar por si mesmos. O que presenciamos é um fascismo em sua face neoliberal e pseudo-democrática, centrado em uma figura que não entende de história, de economia, política e sociologia a ponto de compreender conceitualmente o que é fascismo. As palavras para tratar este fenômeno ainda serão criadas.

O que presenciamos é um fascismo em sua face neoliberal e pseudo-democrática, centrado em uma figura que não entende de história, de economia, política e sociologia a ponto de compreender conceitualmente o que é fascismo

 

ANDRÉ LUIZ DA SILVA
Professor Universitário
Doutor em História UNESP/Franca

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